10 de maio de 2016

Propaganda de Margarina

A vida não é uma propaganda de margarina. A perfeição moldada que criaram, e que muitos procuram, não existe. Não o tempo inteiro. O roteiro não é um conjunto de risos e gargalhadas o tempo todo, sem um choro de intervalo. É nos intervalos da vida, que podemos fugir do personagem, que muitas vezes temos que criar. Que muitas vezes, temos que entrar em cena, para disfarçar, ou impressionar. Seja qual for o motivo, a sociedade nos cobra uma postura mais rígida, um ato mais maduro, e em cena temos que rir, como quem ri com sinceridade. Mas, e por trás disso tudo? No intervalo por trás das câmeras, no escuro de um quarto, quem você é? Que papel você ocupa na telenovela cotidiana? Que papel é o seu, na novela da vida? A perfeição moldada, de que você precisaria ter: um príncipe encantado para te acompanhar, uma conta bancária gorda, um milhão de amigos, beleza padrão, corpo de manequim, ocupar um posto importante na alta sociedade...
Essa ideia de felicidade não lhe representa. Na corrida da vida, você só quer um tempo mais quieto. Sereno. Viajar, distrair.... Ocupar um papel que sempre foi seu, o tempo todo. Até mesmo nos intervalos. E então você enfrenta seus medos, seus anseios, não é vítima dos vilões dessa grande telenovela. Você percebe que, mais importante que o papel de vilão ou mocinho da vida, é ser protagonista de si mesmo. Antes de ser o que querem que você seja, seja o que você é. E então, eles não vão poder te moldar da forma que querem, como moldam felicidades, e fabricam fórmulas e propagandas fajutas. Ninguém é livre de problemas. Mas somos livres para ser quem somos. Somos livres o suficiente, para ter liberdade de ser nós mesmos, apesar de tudo isso. Apesar dos problemas, apesar das comparações que a sociedade nos envolve, apesar das decepções, e seus golpes. Apesar do choro dos intervalos, apesar da felicidade ensaiada, e fabricada. Somos livres para sentir oque quisermos, para sem gravata usar o terno. Livres para não nos preocupar em qual patamar estamos diante da sociedade. Quebrar molduras, não nos preocupar em nos encaixar nos quadros impostos pela sociedade. Você não precisa se ajustar em nenhum lugar. Você é extrema demais, para caber em estreitos. Você só precisa esticar suas asas. E então perceber, que sua vida é uma propaganda de si mesmo. Com roteiros felizes, outros nem tanto, choros em intervalos, choros em cena... mas, é aquela que você é o seu protagonista, que você é o diretor, comediante, vilão... de si próprio. Viva, independente do que vêem os olhos dos outros. Você diante de si, essa é a melhor visão que pode ter. Se auto-critique, se auto-elogie, se aceite. Se ame. Seja feliz agora e depois. Não se deixe derrotar com os intervalos, pois como dizia Vinícius de Moraes:

            ''O sofrimento é o intervalo entre duas felicidades...''

3 de maio de 2016

O mundo

Moça, esse mundo não é pro teu bico. Teu nariz não é chamado. Esse seu lado rebitado, deixa de lado. Deixa esse barco... deixa vai! Anda vai! Pula, corre, nada... mas não se mete nesse mundo não.
Quantos barcos no teu cais? Quantos náufragos no teu mar? Quantos tiros no teu peito? E com eles, oque tem feito? O tiro cravado... pelo teu ato de amar.
O barco, o náufrago, o tiro, o peito escancarado, a ferida e o machucado, todos juntos nos veleiros da vida, moldando e levando teu nome, Mar! Com você, o quê há? Que imensidão teus olhos me  revelam, e ao mesmo tempo nada compreendo? Que abismo incrível é esse ao fundo dos olhos teus. E que gosto é esse que me molha a boca, e faz viver?
Ah! Menina... não fala isso. Não me faça isso. Os corações de pedra, dificilmente voltam a se apaixonar. Tudo em você é imensidão. Intenso. Vivo, como uma borboleta a sair do casulo.
Você é apenas uma menina sonhadora...
Então, me deixa sonhar... então me deixa jorrar. Deixe que fira, deixe que eu nade, deixa que eu corra, deixa que eu caia, deixa que eu pule, e gargalhe exibindo minha saia rodada, Deixa eu moldar meus caminhos tortos, ainda assim, na esperança de que, meu passo cruze no teu.
Mas menina, você nunca parou pra pensar que...
Fique quieto. Eu te digo: a vida é um passo cruzado. É fogo cruzado. É caminho cruzado, traçado. Moldado, destinado, o que seja. É uma lambada que se toca, pra tanto remelexo que a gente dá na cara da tristeza. É uma melodia doce e cruel ao mesmo tempo. A gente chora de tanto rir, e depois chora de novo. E depois ri, mais uma vez. E mais outras, e assim vai. É um passo a ser ensaiado, é um bando de desatinados, apaixonados, desafinados, e afinados. Mas nesse acorde, que o mundo toca, eu só quero aprender o tom certo para tocar com o seu coração.

Ah.... e em relação ao mundo, como dizia meu amado Drummond:
Não é nem isto, nem nada
É som que precede a música,
sobrante dos desencontros,
e dos encontros fortuitos,
dos malencontros e das miragens,
que se condensam,
ou que se dissolvem em noutras
absurdas figurações.
O mundo não tem sentido.